Acho
piada à forma como certas pessoas vêem o futebol. E não estou a ser irónico:
acho mesmo. Vou
ser mais específico: refiro-me àquelas pessoas que lhe dão pouca importância.
Seja o Sporting, o Porto ou o Benfica, ou seja a Selecção Nacional que
esteja a jogar, existe quem consiga conceber o futebol sem o lado da paixão.
São aquelas pessoas que, quando pontualmente se sentam ao nosso lado a
espreitar um jogo (essas pessoas não vêem jogos: espreitam-nos), ou falam de
bola socialmente à mesa do café, para entrarem nas conversas fazem os
comentários clichê do género:
"Só fazem
isto da vida e nem na baliza acertam.."
"É
fora-de-jogo porquê..?"
"Jogaram
bem.. mas tiveram azar.."
O
adepto com paixão facilmente substituíria estas três frases pelas equivalentes:
"F*da-se,
pane*eiro do c*ralh*, nem na p*ta da baliza acerta!!!"
"Aquele boi
de mer*a 'tá sempre à mama!"
"Não
jogaram a ponta d'um c*ralh*! E o árbitro roubou-nos!".
Mas
o adepto que vê o jogo sem o lado romântico, não. É diferente. Para estas
pessoas não há a táctica nem a técnica. Não há o 4-4-2 nem o 4-3-3. Não há
defesas, médios, nem avançados. Não há falhas de marcação nem dobras. Existem,
apenas e só, 22 indivíduos num campo de futebol aos pontapés a uma bola.
Estes
são os adeptos que, mesmo sabendo que o desfecho dos jogos de ontem não foi o
desejável para Portugal, hoje foram trabalhar exactamente com a mesma cara de todos os
dias, independentemente de a Selecção Nacional ter sido eliminada do Mundial 2014.
O
adepto da paixão não. O adepto "do cachecol e da bandeira" está de
trombas! Está com azia! Queria ter tido um pretexto para virar umas imperiais
depois do jogo, e teve de ficar em casa a ver a telenovela da TVI com a mulher!
O adepto da paixão hoje não vai querer ler jornais desportivos, nem ver na televisão
pseudo-especialistas a analisarem o jogo ao pormenor, para perceberem onde é
que a Selecção falhou! O adepto da paixão está lixado! Está fodido!
Já o adepto sem paixão reage como eu reagiria numa
exposição do Picasso: entrava no museu (a sala), olhava para o quadro (a
televisão), e dizia algo do tipo "Gosto muito das cores..!" (o
clichê). E depois saía do museu e retomava a minha vidinha. Com a mesma cara de
todos os dias.