segunda-feira, 12 de maio de 2014

Condescendência

Foi há sensivelmente um ano atrás que isto aconteceu. Estava eu em Santa Apolónia, a fazer tempo para apanhar o comboio, e entrei num café que existe dentro da estação. Quando me encontrava na fila do pré-pagamento, entrou um senhor, invisual, com uma bengala. Entrou café a dentro, em passo apressado, com a bengala 'a dar a dar' de um lado para o outro, à procura de objectos no caminho dos quais se desviar, mas a primeira coisa que encontrou no raio de acção da bengala foram as pernas de uma senhora. A senhora olhou para ele, com ar indignado, mas ao ver que ele era cego nada lhe disse. E ele continuou, a "varrer" com a bengala, acertando em mim de seguida: primeiro na minha mala, e depois também nas pernas. Também eu olhei para ele e nada lhe disse. Afinal de contas, ele era cego.
Durante alguns dias pensei naquele episódio. E cheguei à conclusão de que, apesar de ter sido o cego que entrou café a dentro com a bengala em riste, a varrer de um lado para o outro, as verdadeiras bestas quadradas foram a senhora e eu, que levamos com as bengaladas nas pernas e não abrimos a boca. E porquê? Porque este silêncio, esta condescendência do "Não lhe vamos dizer nada porque ele é cego", acaba por ser em si mesma uma atitude discriminatória. No fundo significa "Não o vamos tratar como um igual, porque ele é diferente". Não o vamos mandar para a puta que o pariu, porque ele é cego.
Onde quero chegar com isto? Ao que se passou na edição deste ano do Festival Eurovisão da Canção, em que uma Europa que atravessa uma fase delicada, teve receio de ser acusada de discriminar um travesti, e votou em massa numa música só porque a cantora tinha barba rija. 
A questão que coloco é: esta condescendência para com uma minoria (os travestis), ao invés de a julgar em igualdade de circunstâncias com o restante todo (neste caso, os concorrentes dos outros países), não é em si mesma um acto discriminatório? Não terá sido uma espécie de "Vamos votar na Conchita, só para mostrar que não somos preconceituosos?" Não é igual a não mandar o cego para a puta que o pariu, só porque ele é.. cego? Ou será que a música da Áustria era, de facto, assim tão melhor que as outras? Se acham que era, peço desculpa por vos ter roubado estes três minutos de vida. 

23 comentários:

  1. Eu acho que a barba era hipnótica! Através da televisão inebriou o publico o que os levou a votar na conquilha! Como aquele fulano que arranjava relógios à distancia!
    A conquilha até cantou bem! Mas eu dispensava a barba!

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    1. Lá está: então a barba também ganhou votos. Logo, não foi apenas a qualidade musical que influenciou os votos. :P

      Conquilha é bem mais fixe que Conchita!

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    2. O tipo dos relógios era o Uri Geller

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  2. A Europa é muito politicamente correcta, por isso é que enrabada pelos chineses, americanos, kebabs e derivados!

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    1. True story, bro.
      A História está cheia de exemplos que sustentam esse facto.

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  3. Mau Maria. Já falamos sobre isto oh gajo. Dá lá uns espaços entre parágrafos no texto senão isto fica mais dificil de ler :P

    Quanto ao conteudo do post em si: acho que fizeste bem em não mandar o cego para o c....., até porque ele não tem culpa de ser cego e de precisar duma bengala para se deslocar.

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    1. Jedi, quanto aos parágrafos, embora ache que me prejudiquem a estética, vou ponderar a tua sugestão! :P

      Relativamente ao cego, o facto de ele precisar da bengala para se deslocar, não lhe devia dar por si só o direito de a usar como bem entende, e de acertar nas pessoas e nem pedir desculpa! Era mais ou menos aí que queria chegar!

      Oh pra mim a dar espaços entre parágrafos nos comentários! É uma questão de tempo até chegar aos textos! ahah

      Saudações Leoninas!

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    2. E vês a diferença na facilidade de leitura do comentário? :P

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  4. Eu acho é que já não se vota no que é importante: a música!
    Há uns anos atrás, quando aquele grupo, Lordi acho eu, de "monstros" ganhou ficou toda a gente espantada, mas o certo é que votaram neles. Porque eram diferentes, para a palhaçada.. não sei! Este ano foi numa de "ó para nós a votar na Conchita porque não temos quaisquer tipo de preconceitos".. e puff... fez-se o chocapic!

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    1. É verdade. Mas se fores a analisar os Festivais dos últimos 15/20 anos, há outros exemplos deste género, em que não foi propriamente a qualidade da música que ganhou, mas sim a necessidade de ser condescendentes com algo/alguém por ser novo/diferente da maioria. Tal como os finlandeses Lordi, de que falaste!

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  5. Eu gostei da Conchita e não foi por ser de barba "rija". Gostei da voz indefinida, se macha se fêmea. :) Opiniões á parte, gosto pouco de levar com bengalas em cima! ;D

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    1. Sol,

      Se quiseres os teus 3 minutos de volta, tens de preencher o formulário 32, em caneta preta, digitalizar, e enviar em pdf. para o email do blog que podes encontrar no fundo da página, sim? :P

      Mais a sério, aceito perfeitamente isso! Como refiro no texto, eu apenas questionei se a votação teria tido em conta apenas e só a qualidade da música. E se assim foi, I rest my case.

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  6. Não sei se será condescendência.

    Quanto ao caso do senhor, não imagino quanto tempo demoraria uma pessoa invisual a deslocar-se se tivesse de andar cuidadosamente a "pisar o terreno". Também já levei com as ditas bengalas, no meu caso com pouca força e também não disse nada simplesmente porque acho que não é uma coisa propositadamente agressiva para com os demais.

    Quanto à Conchita, para ser franca não ouvi a música. Mas sei que a imagem dela me perturba... não faz sentido... não é carne nem é peixe, parece-me que só quis chocar. E chocou. E chamou a atenção. E ganhou... não sei se foi condescendência ou se votaram no que foi mais diferente. Nem sei se foi por bem...

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    1. Eu também já levei bengaladas, por exemplo, no Metro, e o senhor que as deu teve a decência de pedir desculpa. Agora aquele de Santa Apolónia devia estar com os azeites. Foi uma coisa completamente despropositada.

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  7. Concordo contigo. Ainda ontem falei disso. Ele/ela foi escolhido por 'pena', por medo ou para ninguém ter que se chatear com comentários menos simpáticos acerca de discriminação. Mas a verdade é que isso, por si só, é discriminar. Mas o Conchita sabia muito bem que este espetáculo o ia beneficiar...

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  8. Mas a Valvita cantou? Não dei por nada...(Pá... Tenho para mim que ela sabia muito bem o que estava a fazer... Tinha desfeito a barba e ninguém falava nela...)

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    1. "Valvita", "Conquilha".. já lhe chamaram de tudo nestes comentários! :P
      Cá para mim aquilo foi uma manobra publicitária da Gillette..!

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    2. A propósito dessa da Gillette... :DDDD (Mal possa faço um post com uma coisa parecida que me fizeste lembrar...)

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  9. Eu cá ainda nem a ouvi…mas já botei discurso.

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    1. Ahahahahahahahahahahahahahah... És mesmo cá das minhas tu.... :DDDDD

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    2. Mai'nada! Ainda não li o que escreveste, mas espero que tenha sido a cascar nela. Ou nele!

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  10. De cegos para a Conchita LOL até sofro de whiplash!

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