Se há página de humor que sigo religiosamente é a do Gustavo
Santos. Quando vejo as coisas que o Gustavo escreve, tenho sempre a sensação
que estou perante um gajo que por ter lido a Tabuada do Ratinho acha que
percebe de Álgebra de Linear. Só que com letras. O que é equivalente a alguém
ler um livro da Margarida Rebelo Pinto e, só por isso, achar que sabe escrever
como o Murakami. Se tudo fosse assim tão fácil, todos tocaríamos viola como a Mafalda Veiga, mas a verdade é que a música não se pode reduzir a dois acordes.
Quando olho para as frases do Gustavo - aquelas mãos cheias de
nada - fico com a ideia que ele transforma uma frase feita, num poema
apaneleirado por palavras difíceis que aprendeu ao abrir o Dicionário da Porto
Editora em páginas ao acaso.
Até que, no Sábado, acordei e pensei para comigo: durante um
dia vou seguir os conselhos do Gugu!
Levantei-me da cama, liguei o computador, e abri a página do
Gustavo, onde li o seguinte:
Se te pedirem para fazer alguma coisa com a qual não te identificas, diz
"NÃO"!
Se te convidarem para ir a algum lado e não te apetecer, diz
"NÃO"!
Se te obrigarem a dizer alguma coisa na qual não acreditas, diz
"NÃO"!
Se te exigirem o que não és e o que não gostas, diz "NÃO"!
Se te tentarem convencer a comer ou a fazer o que não queres, diz
"NÃO"!
E depois vê lá se a tua vida não se torna mais positiva!
No dia em que decidires ser dono de ti, acabam-se as concessões de uma vez
por todas.
Bom dia!
Segui os seus conselhos, ponto por ponto, e basicamente o meu Sábado foi assim:
- Tinha um email do meu Director Geral a pedir para lhe tratar
de um assunto com o qual não me identifico, e respondi-lhe apenas "NÃO!"
- Uma rapariga num Bar perguntou-me se eu queria ir até casa
dela barrar-lhe as virilhas com Nutella e brincar aos caniches com fome,
e eu disse-lhe "NÃO!" que a música estava boa no Bar.
- A meio da Missa no Sábado à tarde, quando o padre disse
"Oremos", desatei a correr pela Igreja fora a gritar
"NÃÃÃÃÃÃOOO!"
- A mesma miúda do Bar voltou a insistir para que fosse a casa
dela. Prometeu vestir-se de cabedal e deixar-me dar-lhe chicotadas nas costas
enquanto lhe chamava "Júlia Pinheiro" e eu disse-lhe que "NÃO!", que não gostava dessas coisas do bondage.
- Tive um jantar de família no qual comecei a gritar
"NÃO!" feito parvo quando me meteram feijão verde no prato.
Sabes no que deu, Gustavo? Deu merda. Fui despedido, dormi sozinho no fim
de semana, a minha avó diz que nunca mais me quer como companhia para ir à
Missa (nem a lado nenhum), e no jantar de família meteram-me um babete e uma
chucha ao pescoço. Logo a resposta é "NÃO!", a minha vida não se
tornou mais positiva.
Bom dia para ti também.