Não sou uma
daquelas pessoas que acordam com mau humor. Mas se há coisas que
conseguem acelerar os meus 50 batimentos cardíacos por minuto, são as crianças
irritantes logo pela fresca. Os personagens:
uma miúda pequenina, a mãe e a avó. A acção decorre entre as 8:30 e
as 9:30 manhã, num comboio para Lisboa. O comboio está
para chegar. Faltam dois minutos. A mãe e a avó estão em amena cavaqueira,
enquanto a miúda, com uns óculos fundo de garrafa, anda a grunhir qualquer
coisa de um lado para o outro. Ao fundo avista-se o comboio. A mãe e a avó
continuam em amena cavaqueira. A miúda debruça-se sobre a linha para ver melhor
o comboio, e a mãe e a avó 'nem fava nem tremoço'. Não, infelizmente a miúda
não caiu à linha. Se bem que me dava jeito, pois além de acabar já aqui o post, teria
tido um pretexto válido para não ter que me deslocar à capital.
Entramos no
comboio. No banco à minha frente uma gaja feia dorme, enquanto um fio de baba
lhe escorre pelo canto da boca. Sexy. As três da vida
airada sentam-se no banco logo a seguir. O comboio, Regional, começa a parar em
todas as estações e apeadeiros, como mandam as regras. A miúda questiona:
"Pukéku combói vai xó a pará?". A avó, voz da experiência, responde:
"O comboio vai parando para ganhar força para depois continuar a viagem..".
Eu penso para comigo: "Tá bonito.. mais valia ela ter caído à linha, que
sempre morria menos estúpida..". Adiante.
A miúda continua
a observar tudo ao seu redor. Dispara a seguir: "Olha, vai ali ôta menina
a drumir!". A avó responde: "Tu também podes dormir..", como se
a miúda precisasse de uma qualquer espécie de autorização para fechar os olhos. A gaja à minha
frente guincha qualquer coisa, limpa a baba, e vira-se para o outro lado. A mãe da miúda
vira-se para ela e pergunta: "Sabes porque é que as cegonhas fazem o ninho
lá no alto?" - apontando para o cimo de uma chaminé, num dos apeadeiros.
Eu penso: "Finalmente a miúda vai aprender alguma coisa..". A mãe
responde: "Porque assim, quando acenderem a chaminé, ela e os filhotes vão
estar quentinhos..."
Eu penso:
"Afinal deviam ter caído as três à linha.."
A gaja à minha
frente morre afogada em baba.
O comboio pára.
Chegamos. Finalmente.
* Frase Nicola: "Um dia por semana publico um texto retirado do Blog antigo. Hoje é o dia!"
Dormir é meio sustento! NUM sabias?
ResponderEliminarTu tens Blog? Pelo teu perfil do Blogger não consigo dar com ele..!
EliminarEntão não era ao domingo que publicavas esses textos? ahah
ResponderEliminarDeixei de ter um dia fixo! Nunca ouviste dizer que "O Natal é quando um homem quiser" ? :P
EliminarTambém ando de regional e acordo sempre bem disposta. Põe uns fones e lê. Caga nessa gente irritante :)
ResponderEliminarLer e ouvir música ao mesmo tempo não consigo. Normalmente opto só pelo livro ;)
EliminarNão consigo ler no comboio sem música porque não desligo do barulho. Escolho bandas sonoras ou coisas mais calmas.
EliminarSempre que apanho gente assim, vou o caminho todo com uma única imagem mental: partir os dentes desse tipo de pessoas! Vejo-me mesmo a espetar-lhes a cabeça contra o vidro repetidamente.. Instintos violentos!
ResponderEliminarQue violência, Senhora! :P
Eliminarsabedoria popular...
ResponderEliminarTrue story! :P
EliminarAndar de transportes públicos tem esta magia, descobrir todo o tipo de pessoas e muitas delas, espécies raras como as que retratas!
ResponderEliminarVerdade. Essa heterogeneidade é ainda mais evidente no Metro do que no Comboio :P
EliminarEpá... ainda estou de boca aberta com este texto!!! Muito bom, MESMO!
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